Quando a FRUNE, os sindicatos e grande parte da sociedade civil organizada lutou por anos para evitar a privatização da Eletrobras/Chesf era justamente evitar o que, lamentavelmente, vem se confirmando: apagões, aumento de tarifas, precarização dos serviços e, pior que isso, perda de vidas humanas.
A conta não para de crescer. Hoje, 21, mais um acidente entra na lista para provar o lado perverso da privatização. Lamentavelmente, três chesfianos se feriram, um deles gravemente, após ocorrer uma explosão na subestação Mirueira II, na cidade de Paulista, em Pernambuco. O acidente deixou diversos bairros de Recife e da região metropolitana sem energia.
Este não é um caso isolado. No final de agosto, o desligamento da subestação da Chesf, localizada em Pituaçu, na cidade de Salvador, deixou ao menos 30 bairros de Salvador sem energia elétrica. O problema causou impactos no metrô da capital baiana, em shoppings e semáforos nas ruas da cidade, além de centenas de casas e estabelecimentos comerciais.
No final de setembro a cidade de Campina Grande, na Paraíba, também ficou sem energia após problemas em uma subestação da Chesf. Ontem, 20, outro desligamento aconteceu, em Bom Jesus da Lapa. O resultado foi apagão em quatro municípios da Bahia.
Os constantes acidentes em subestações, linhas de transmissão e em outros ambientes energizados sob responsabilidade da Chesf passaram a ocorrer com mais frequência após a sua privatização. Isso é fato! A explicação é simples: trata-se da soma de vários fatores: diminuição drástica da mão de obra, terceirização das atividades fins, perda da memória técnica, precarização e enxugamentos internos.
Para se ter ideia da lógica perversa da privatização e de seu reflexo na prestação de serviços e na segurança do sistema elétrico, nos últimos PDV’s(Programa de Demissão Voluntária) ocorridos em 2022 e 2023, a empresa perdeu mais de 41% dos seus profissionais. Somente na Bahia, 37% das subestações estão terceirizadas. A média é praticamente a mesma nos estados do Nordeste sob atuação da Chesf. Não há, portanto, como não perceber uma relação direta de causa e efeito.
A MORTE COMO PIOR CONSEQUÊNCIA
O acidente de hoje mostra o lado mais perverso da privatização: a vulnerabilidade da vida humana. Torcemos para que os chesfianos envolvidos estejam fora de qualquer perigo de morte, já que, infelizmente, tivemos tristes episódios de eletricitários que não resistiram, tanto de trabalhadores terceirizados, estes ainda mais vulneráveis, como de trabalhadores próprios.
O aumento do número de acidentes, inclusive fatais, está relacionado à política adotada pela Chesf focada na diminuição de gastos, historicamente comum em empresas privatizadas. O resultado disso é sobrecarga de trabalho devido à redução no quadro de pessoal, alta cobrança e pressão por produtividade e falta de treinamento e de equipamentos adequados, principalmente nas empresas terceirizadas.
Toda essa situação expõe o trabalhador a um maior nível de insegurança – cenário de precarização que se agrava ainda mais quando olhamos para a realidade do trabalhador terceirizado.
Inacreditavelmente, a Chesf em comparação às demais empresas, vem adotando medidas mais severas para reduzir os indicadores de despesas com PMSO (Pessoal, Material, Serviços e Outros). O índice exigido é muito mais severo do que é proposto como base pela própria ANEEL.
A Chesf, portanto, que tem a menor folha salarial do grupo e foi a mais impactada pelo últimos PDV’s, cortando custos com treinamento e segurança, refletindo diretamente no índice de acidentes.
SINDURB SOLICITA APURAÇÃO
Após tomar conhecimento do acidente, o Sindurb-PE encaminhou um ofício para a empresa solicitando as devidas providências no atendimento dos trabalhadores, assim como na apuração do acidente. Segundo o diretor Wellington Soares, “cobramos os procedimentos iniciais de primeiros socorros. Queremos também que estes empregados tenham todo aparato com relação a questão da investigação, análise e comunicação do acidente”.
O SINDURB reafirmou, ainda, seu compromisso de fiscalizar as questões que envolvem a saúde e a segurança dos trabalhadores.
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