Inflação em debate: Sinergia entrevista técnico do DIEESE nacional

A inflação é culpada pelo aumento de preços de produtos, de aluguel, de salário e também o motivo pelo qual seu poder de compra diminui em alguns momentos. Mas o que é a inflação, afinal? Por que ela existe? Como ela impacta você no dia a dia? O Sinergia conversou com Fausto Junior, diretor técnico do DIEESE nacional, e ele nos explica como a inflação é prejudicial para o trabalhador.

Segundo Fausto, a inflação que nós estamos vivendo, de alguma forma, é um dos mecanismos mais eficazes de você transferir renda dos mais pobres para os mais ricos.

Com uma inflação vinculada principalmente aos preços dos alimentos e o preço dos combustíveis, a gente vai vendo como de alguma forma, o conjunto da população tem perdido a capacidade de compra, o que chamamos de “carestia”. Os preços começaram a crescer de maneira generalizada e a renda do trabalhador foi se reduzindo ano após ano. O carrinho de supermercado vai encolhendo, e as condições de vida real da população vai piorando muito.

Sinergia – Como você avalia as ações do governo para diminuir a inflação?

Fausto Junior – O governo Bolsonaro num período eleitoral, simplesmente começou um processo de tentar jogar uma grande cortina de fumaça, como políticas pontuais e de prazo muito curto. Isso porque tudo que foi implementado recentemente, seja a questão da elevação do auxílio Brasil ou a questão da desoneração tributária sobre os combustíveis, tem validade até o final do ano.

Na prática, o que o governo Bolsonaro fez foi simplesmente tentar um golpe eleitoral por conta ainda da chamada PEC Kamikaze. Para vocês terem uma ideia, recursos diretos dos estados e municípios que são destinados à educação, saúde e assistência técnica, viraram subsídio para a gasolina. Uma das poucas vezes na história do Brasil, em que o preço da gasolina hoje está mais baixo que o preço do óleo diesel.

Ou seja, o governo beneficia, com subsídio, uma classe média que faz uso do automóvel e que vai manter o problema da renda e a questão principalmente de abastecimento nas classes mais populares. Porque o óleo diesel não teve a mesma redução de preços e, além disso, retirou recursos ao de educação e assistência.

Para você ter uma ideia, só a cidade de Salvador perdeu mais de cem milhões de reais nessa mudança do ICMS dos combustíveis. Ou seja, o governo tenta baixar o preço dos combustíveis para dizer estar fazendo alguma coisa contra a inflação, mas, na prática, está pegando recursos de estados e municípios para tentar subsidiar uma movimentação eleitoreira.

“O governo tenta baixar o preço dos combustíveis

para dizer estar fazendo alguma coisa

contra a inflação, mas, na prática,

está pegando recursos de estados e

municípios para tentar

subsidiar uma movimentação eleitoreira.”

E de um modo geral, como podemos avaliar a política econômica para os trabalhadores?

Pela primeira vez desde 1994, um governo vai terminar o seu mandato com o salário mínimo tendo perda real. Ou seja, não cresceu sequer e não conseguiu repor a inflação. Isso é muito grave, porque o salário mínimo é, sem sombra de dúvida, o mecanismo mais efetivo de ampliar o processo de redução da desigualdade no Brasil.

Tudo isso tem a ver com uma política clara e deliberada de transferir renda dos mais pobres para os mais ricos, que é o caminho que o governo Bolsonaro vem trilhando desde que tomou posse.

 E como podemos driblar os efeitos da inflação?

Quanto mais pobre, mais difícil é se proteger contra a alta generalizada nos preços. Primeiro, porque de um lado, temos os ricos, que têm mais recursos, e que vão com o mercado financeiro, ganhando muito dinheiro com a alta de juros que o atual governo vem efetivando. Por outro lado, o mais pobre gasta boa parte do seu salário, com itens muito básicos como alimentação, habitação, que também não tem muito substituto. Você não consegue substituir o básico da alimentação, a gente tem visto que essa substituição entre os mais pobres vem sendo feita da carne pelo osso, da coxa de frango, pela pele de frango. É esse nível que nós estamos chegando no empobrecimento da população.

Do ponto de vista da relação capital x trabalho, o que os trabalhadores sentem nesse momento?       
Nós assistimos desde a reforma de 2017, uma perda de poder de negociação das organizações sindicais. Esta reforma trabalhista reduziu, de certo modo, o poder sindical de negociação. Tanto é que quase metade das negociações, sequer consegue repor as perdas salariais. Ou seja, inflação de um lado e, de outro, a chamada negociação individual, que na prática a gente sabe que não existe negociação entre uma empresa e um trabalhador individualmente. O trabalhador não tem poder, a empresa pode demití-lo a qualquer momento.

Esses mecanismos que foram criados por dentro da reforma trabalhista, também retirou a possibilidade dos trabalhadores formais de se protegerem contra essa inflação. Com isso, cada vez mais a renda média do trabalhador brasileiro vem se reduzindo e a participação dos salários tem reduzido em relação ao PIB. Isso vai mostrar, de fato, que a classe trabalhadora vem perdendo muito no atual governo.

Em relação as eleições quais os cuidados que a classe trabalhadora deve ter?

É inevitável que a grande questão deste ano seja mudar a trajetória desse país. É fundamental que a gente faça escolhas. Estamos num período de eleições gerais e é imprescindível que a gente faça a escolha de um outro projeto de desenvolvimento.

O atual projeto de governo que está em prática, é um projeto dos mais ricos, que beneficia muito poucos. Temos que avançar para um projeto de país muito diferente, que coloca o pobre no orçamento e que de alguma forma compreenda que a saída para o nosso desenvolvimento passa pela distribuição de renda, pela melhoria dos salários e pela geração de emprego.

Acho que talvez seja a grande discussão que nós possamos fazer. O debate tem a ver muito a ver com as escolhas que você faz. Essas escolhas vão acontecer dia 2 de outubro, e é importante que a gente eleja não só o presidente da República ou o governador, mas também um congresso nacional, as assembleias legislativas que sejam comprometidas com a classe trabalhadora.

Confira a integra da entrevista

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