A privatização da Eletrobras e de suas subsidiárias vai encarecer em até 30% as tarifas de energia elétrica, além de demitir milhares de funcionários e precarizar a qualidade dos serviços. O cálculo é de Emanuel Torres, presidente do Sindicato dos Eletricitários do Estado do Rio de Janeiro e da Associação dos Empregados da Eletrobras (Aeel)
Em entrevista à Sputnik Brasil, Torres diz que a Medida Provisória, assinada no dia 28 de dezembro pelo presidente Michel Temer, retirando a proibição de venda da Eletrobras e suas subsidiárias, pegou a todos de surpresa.
“Fomos pegos de surpresa com essa medida provisória, porque estávamos entendendo que o governo iria fazer isso através de um projeto de lei. O presidente Lula tirou a Eletrobras do Programa Nacionall de Desestatização à época (2004), porque entendia que a Eletrobras poderia se transformar na Petrobras do setor elétrico. Agora esse governo, que não tem compromisso com o Brasil, coloca a Eletrobras no processo de privatização, e isso simplesmente para diminuir o rombo do governo para esse ano, não tem um projeto de futuro para a empresa”, diz o dirigente.
Nem nos números, as avaliações batem. O Ministério das Minas e Energia afirma que o valor pátrimonial da Eletrobras é de R$ 46,2 bilhões e o valor de ativos chega a R$ 10,5 bilhões. Já a Aeel calcula que o valor patrimonial do grupo é de R$ 370 bilhões e o preço de venda será R$ 12 bilhões. Na visão de Torres, é um número muito alto para se deixar na mão de acionistas.
Temer facilita privatização da Eletrobras – “Quem vai ganhar com a venda da Petrobras será meia dúzia de acionistas. O povo mesmo não terá nada. A tarifa vai aumentar, os trabalhadores vão ser demitidos, vão terceirizar e precarizar o serviço, hoje de excelência. Raramente falta energia por conta das usinas da Eletrobras”, diz o sindicalista.
Segundo Torres, quem vai pagar essa conta é a sociedade brasileira. Nos seus cálculos, já existe uma perspectiva de reajuste de tarifa de energia életrica de 9% para este ano, contra uma previsão de inflação em torno de 4%, segundo o mercado financeiro e o próprio Banco Central.
“Com a venda da Eletrobras, estamos estimando entre 20% e 30% de reajuste na tarifa, porque você vai descotizar a energia daquelas 14 usinas que a Eletrobras vende hoje na faixa de R$ 20 a R$ 30 o Megawatt/hora (Mw/h). Se o governo descotizar essas usinas, isso vai ser vendido no mercado a R$ 200 o mw/h”, alerta o sindicalista.
O diretor da Aeel lembra que pesquisas recentes de opinião pública, como a realizada pelo Instituto Data Folha no final de dezembro, revelam que 70% da população são contrários à privatização. Torres dz que o sindicato e a associação estão trabalhando no Congresso junto a parlamentares e também na questão jurídica para barrar a venda. “O presidente não pode achar que um decreto pode passar por cima da lei de criação da própria Eletrobras. Estamos indo para Brasília assim que acabar o recesso para discutir com aqueles parlamentares que dê para conversar.”
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Torres também discorda da avaliação do governo que defende a privatização do grupo sob a alegação que ele é deficitário.
“A Eletrobras, quando a presidente Dilma fez aquela Medida Provisória 579, tirou quase 80% do caixa das empresas. A presidente, ao mesmo tempo em que reduziu em 20% a tarifa para o consumidor — que acabou não sentido devido à inflação — as empresas do grupo perderam 80% de sua capacidade de caixa. A gente prorrogou a concessão de nossas usinas e em contrapartida reduzia as tarifas. Ficamos por isso dando prejuízo por três anos (de 2014 a 2016). Quando chegou em 2017, a Eletrobras começou a se recuperar e a dar lucro, e esse ano vai dar um lucro altíssimo.
A Eletrobras está executando um plano de corte de gastos, já realizou três incentivos à aposentadoria, e mais de 5 mil trabalhadores aderiram. A empresa está enxuta. Os números apresentados pelo governo são sempre os anteriores”, garante o dirigente.
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