Durante o VIII Enop, operadores criticaram a redução de investimentos no setor elétrico, imposta pelas empresas privadas que já fazem parte do sistema
Para representantes dos operadores do sistema elétrico, a privatização da Eletrobras (Projeto de Lei 9463/18) pode tornar o sistema mais frágil, causando problemas semelhantes ao blecaute do dia 21 de março que atingiu 70 milhões de pessoas no Norte e Nordeste. O 8º Encontro Nacional dos Operadores – Enop – ocorreu na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (11/4) com a presença de vários parlamentares contrários à privatização. O Sinergia foi representado pelos diretores Rafael Oliveira e Raimundo Lucena
Para Sérgio Vieira, da Associação de Profissionais em Operação de Usinas e Subestações, um simples desligamento de linha não teria causado o blecaute se o sistema tivesse máquinas hidráulicas suficientes para suportar a carga extra. Ele explica que isso também ocorre em função da redução de custos imposta pelas empresas privadas que já fazem parte do sistema.
“Esse teste, até bem pouco tempo atrás, era impedido de ser feito em horário de ponta de carga, horário que tem mais carga no sistema justamente para evitar alguma oscilação neste corte. Infelizmente, o nosso controle operacional do sistema agora está liberando estes horários. Para as empresas economizarem em horas extras, não se faz mais no período noturno ou final de semana. E as empresas também querem adiantar o cronograma das obras, querem fazer o mais rápido possível estes testes e acabam colocando o sistema em risco”, explicou Vieira.
Apagão
O Operador Nacional do Sistema Elétrico informou este mês que o apagão foi causado por um ajuste de proteção indevido no disjuntor da Subestação Xingu, no Pará. A empresa Belo Monte não teria informado ao ONS que havia estabelecido o limite de segurança no disjuntor. Como desconhecia o ajuste, o operador determinou a passagem de uma carga superior ao limite, e o sistema interrompeu a circulação de corrente entre os dois lados da subestação.
Vários deputados presentes na reunião, como a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), ressaltaram que a privatização também transfere para as empresas privadas o controle das águas das usinas hidrelétricas, além da energia. A deputada Erika Kokay (PT-DF) disse que o objetivo da venda é apenas pagar mais dívida pública.
“Isso me lembra as tragédias gregas, onde havia os deuses e os deuses ficavam enfurecidos. Porque o mercado tem sentimentos humanos, o mercado fica nervoso, o mercado fica tranquilo, o mercado é carinhoso, se humanizou o dito mercado. E naquela época das tragédias gregas, se ofereciam sacrifícios humanos para poder conter a fúria dos deuses. Não é diferente hoje”, disse Kokay
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