Gilberto Santana: O diálogo é ponte de mão dupla

Aprendi na militância sindical que palavras são pontes para solução de conflitos, que quem deseja construir o bem da coletividade se ocupa em construir pontes e nãoem destruí-las. É, é isso mesmo… sobre pontes no sentido da negociação trabalhista, sobre “dias pontes” negados e retirados de nossa cultura laboral.

Durante uma manifestação dos trabalhadores, em Juazeiro, em frente ao portão da empresa, me deparei com uma placa de sinalização na guarita,  sinalizando mão dupla, dois sentidos, ida e vinda.

Inspirei-me nela para escrever esse texto, o momento é oportuno para refletirmos sobre o ir e vir de nossos dias na empresa e seus paradoxos, suas contradições, como transitam a Coelba, seus chefes apelidados de “líderes” e os trabalhadores de “colaboradores”.

Na Coelba, só existe mão dupla nas placas de sinalização de uma suposta “segurança” que só assegura a vontade e o interesse patronal em detrimento da escuta e direitos dos que produzem a sua riqueza. Na prática, só há um sentido, mão única e exclusiva dos dirigentes da Neoenergia.  A exploração exige que o explorado não questione o explorador. Ou obedece ao fluxo dominante ou é taxado de reativo e problemático.

O sentido obrigatório implica ao trabalhador atender sempre, sempre que for necessidade patronal, sob chuvas e trovoadas, sujeito às descargas atmosféricas, no chamado relâmpago da chefia que cai no celular privado como um corisco em forma de obrigação.  Uma tempestade de ordens sopra no vento da arrogância açoitada pelo mal tempo das relações de trabalho. Sem Céu. Tempo fechado!Péssimo clima!

O sentido obrigatório indica que o peão deve sempre atender a empresa, e, nem sempre, ou quase nunca será atendido. Trabalhe sempre sem escolher o dia e a hora e nunca terá direito de escolher e ou merecer folga, pois quando esta existe não é objeto de negociação do empregado para com o empregador, mas sempre uma determinação patronal. – Vai folgar porque eu preciso que você folgue nesse dia – compulsório.

Acabar com os “dias pontes” é destruir a ponte do diálogo e erguer o muro da prepotência que define o poder como a capacidade de impor a sua vontade. Essa é sim uma imposição da Coelba. Erguer muro é sempre perigoso, posto que o princípio de liberdade estará sempre disposto a derrubá-lo.

No discurso, o empregado é o seu maior patrimônio. Na prática, meras engrenagens de produção. Não somos patrimônio nem recurso. Somos gente, somos valor humano, que sente, que sonha e que carece de reconhecimento e valorização.

O carnaval está se aproximando e é sempre bom lembrar que nele o trabalhador brinca, mas com o trabalhador não se brinca.

O SINERGIA está em sintonia como fiel intérprete da vontade e anseio dos eletricitários da Bahia. Faremos o que tiver ao nosso alcance para restabelecer as pontes que tragam de volta os “dias pontes”.

A luta sempre continua!

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