Mais de 700 mil pessoas, em 13 dos 16 municípios do estado do Amapá, estão sofrendo com a falta de energia, água e combustíveis desde a noite de terça-feira (3) quando a subestação de energia que pegou fogo por volta das 20h40, na capital Macapá, levou ao desligamento automático da linha de transmissão.
A empresa responsável é a espanhola Isolux, que tem histórico de maus serviços prestados em outros países, mas quem está fazendo o conserto são os trabalhadores da Eletrobras, que o presidente Jair Bolsonaro (ex-PSL) quer privatizar. Privatizar, para este governo é modernizar. As empresas que compram, porém, ficam de olho nos lucros, demitem técnicos experientes e contrata pessoal com menos qualificação para pagar menos e ainda reduz o quadro de pessoal.
Em 2014, a Isolux deu um prejuízo de US$ 476 milhões ao estado norte-americano de Indiana, onde também prestava serviços, segundo o diretor do Sindicato dos Urbanitários do Maranhão (STIU/MA), Wellington Diniz. E agora dá prejuízo ao Brasil e ao povo do Amapá.
O grupo multinacional que controla a concessionária Linhas do Macapá não conseguiu resolver o problema e pediu socorro para os trabalhadores da Eletrobras. A estatal brasileira está enviando técnicos dos estados do Pará, Maranhão e Rondônia para ajudar no reparo. O problema é que nem um gerador substituto, nem peças de reposição, a Isolux possui no local.
“O que acontece no Amapá pode acontecer em outros lugares. Bolsonaro e ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque vêm dizendo que a Eletrobras não tem capacidade de investimento, e apostam na privatização, só que na hora em que acontece um acidente como este são os técnicos da Eletrobras que são convocados para prestarem socorro à empresa internacional porque ela não tem capacidade para resolver o problema”, alerta Wellington, que também é funcionário da Eletronorte, do holding Eletrobras.
De acordo com o dirigente, a Isolux não tem capacidade técnica, nem trabalhadores em números suficientes para manutenção, nem recompor a energia em pouco espaço de tempo, por isso os técnicos da Eletrobras foram chamados para prestar socorro.
O presidente do Sindicato dos Ubanitários do Amapá (STIU-AP), Jedilson Santa Bárbara de Oliveira, critica ainda o desmonte da Eletronorte no estado. Segundo ele, a empresa tinha no estado do Amapá, 220 trabalhadores em 2007, mas com a sanha privatista de Michel Temer (MDB-SP), hoje conta com apenas 110 trabalhadores.
“Oito técnicos da Eletrobras de outros estados que estão ajudando nos reparos são considerados dispensáveis pela empresa por terem muito tempo de casa e estão prestes a se aposentar. A empresa quer incentivar a demissão de trabalhadores experientes por meio de PDVs, mas na hora que mais precisa, são eles que são chamados. As mil demissões que a Eletrobras quer fazer são para baratear os custos para privatizar e entregar ao capital internacional mais uma empresa brasileira superavitária. A Eletrobras teve um lucro no último ano de R$ 20 bilhões” , denuncia Jedilson.
A possibilidade de ocorrerem apagões em todo o país já havia sido levantada, em janeiro do ano passado, pelos sindicalistas do STIU de diversos, que denunciaram o projeto privatista do governo Bolsonaro para a Eletrobras.
Apesar da gravidade da situação, o ministério das Minas e Energia e o governo local, preveem que a situação só se normalize em 15 dias, podendo se estender por outros 15.
A demora, dizem os técnicos, é que um novo gerador só deve chegar em duas semanas porque ele pesa cerca de 100 toneladas e seria levado de barco, o que dificulta ainda mais a logística operacional. A esperança para a população é que o fornecimento de energia seja reestabelecida em 70% em todo o estado do Amapá, conforme prometeram as autoridades governamentais.
Relatos de caos no Amapá
Enquanto lutam contra o tempo para reestabelecer pelo menos parte da energia nos 13 municípios afetados (apenas três estão com energia: Laranja do Jari, Vitória do Jari e Oiapoque, por serem abastecidos pela usina de Coaraci Nunes, sistema independente da linha de transmissão da Isolux ), os relatos do presidente do STIU-AP e da tesoureira da CUT/AP, Maria Neuzina Tavares Castro, são de caos e desespero dos amapaenses.
Segundo os dirigentes sindicais, as filas nos supermercados são imensas, o que já vem causando alguns desentendimentos para comprar água, que está sendo racionada. Há estabelecimentos que vendem apenas dois galões de cinco litros por pessoa. Em plena pandemia do novo coronavírus (Covid 19) em que a água é essencial para a higiene e prevenção à doença, a população não tem como se cuidar.
As padarias também estão limitando a venda de pães a 10 unidades por família. Nos postos de combustíveis as filas quilométricas são formadas por 60 a 50 veículos. Outros postos estão fechados porque suas bombas não condições de retirar o produto dos poços.
“O calor é insuportável, especialmente para os mais idosos e crianças, que têm de deixar suas portas e janelas abertas para entrar algum vento, mesmo com medo de assaltos ou algum tipo de violência que possam ser cometidos em função das ruas vazias e a escuridão. A temperatura na capital amapaense é em média 35 graus, mas a sensação térmica chega a 40 graus”, diz Jedilson.
Com o calor e a necessidade de manter alimentos refrigerados, uma barra de gelo chega a ser vendida por R$ 50,00. A comunicação também é precária. As linhas de celulares das operadoras Vivo e Oi não funcionam. A Claro é a única operadora que dá algum sinal e, ainda assim de vez em quando. Há casos em que uma mensagem transmitida pelo whatsAPP pela manhã só é visualizada a noite. Toda a energia que chega é direcionada apenas a hospitais e serviços essenciais.
“Toda essa situação poderia ser evitada se a empresa que ganhou a concessão da linha de transmissão contratasse profissionais com qualificação, mas ela só se interessa em pagar baixos salários, colocando a população em risco”, critica Jedilson.
Apagão provoca debate nas redes sociais
As redes sociais têm sido utilizadas para manter a população corretamente informada porque a direita tem contado mentiras dizendo que a subestação era da Eletronorte, diz um técnico da empresa que não quer se identificar.
“Mesmo com o esclarecimento e desmentido por parte das redes sociais a mídia não coloca que a subestação é de uma empresa privada para não ‘melar’ a privatização”, desabafa o trabalhador.
Por outro lado, a direita também tem utilizado as redes sociais para promover a discórdia. Como no exemplo abaixo em que a economista Elena Landau insiste em dizer que a responsabilidade do apagão é de uma empresa estatal. Ela foi contestada em sua própria publicação.
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